sexta-feira, 29 de maio de 2009

Poesia Matemática

Às folhas tantas
Do livro matemático
Um Quociente apaixonou-se
Um dia doidamente Por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do ápice à base, uma figura ímpar;
Olhos rombóides, boca trapezóide, corpo otogonal, seios esferóides.
Fez da sua uma vida paralela a dela
Até que se encontraram no infinito.
"Quem és tu?" indagou ele com ânsia radical.
"Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram -
O que, em aritmética, corresponde
A almas irmãs - primos-entre-si.
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando ao sabor do momento
E da paixão retas, curvas, círculos e linhas sinoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do universo finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar constituir um lar.
Mais que um lar, uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
Sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma Secante e três Cones
Muito engraçadinhos e foram felizes
Até aquele dia em que tudo, afinal, vira monotonia.
Foi então que surgiu o Máximo Divisor Comum
Freqüentador de círculos concêntricos e viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela, uma grandeza absoluta,
E reduziu-a a um denominador comum.
Ele, quociente, percebeu que com ela não formava mais
Um todo, uma unidade.
Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração mais ordinária.
Mas foi então que o Einstein descobriu a relatividade
E tudo que era expúrio passou a ser moralidade
Como, aliás, em qualquer sociedade.

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